Capítulo III
Da
Santíssima Trindade.
1. Quanto a distinção e relação, Deus é considerado sob três hipóstases(a) ou três pessoas. Sob as quais, evidentemente, revela a Sua própria Deidade na Sua Palavra, a fim de ser considerada economicamente por nós, em relação a Si mesma. Esta Trindade é Pai, Filho e Espírito Santo(b). Assim, uma hipóstase da Deidade é ἀναίτιος (anaitios), isto é, sem causa[1] e ingerada. Outra hipóstase, verdadeiramente, tem a sua causa do Pai por geração, a saber, o unigênito do Pai. E também a outra hipóstase procede igualmente do Pai e do Filho, ou emana do Pai por meio do Filho.
(a) Mt 28.19; Jo 14.16,26 e 15.26; 1Co 12.4-6; 2Co 13.13; 1Jo 5.7
(b) Idem
2. Porém, só o Pai(a) é totalmente desprovido de origem, ou seja, Ele é ingênito e de nenhum outro procede. No
entanto, o Pai comunica desde a eternidade a Sua própria Deidade, então o Filho unigênito(b), não por criação(c) (a respeito dos anjos é dito serem filhos de Deus), nem por graciosa adoção(d)
(pela qual nós os crentes também somos filhos de Deus), e nem só por meio do poder divino e glória suprema, mas de fato por esta graciosa comunicação é o Mediador(e), e também por uma verdadeira geração(f), que é secreta e
inefável. Assim, também o Espírito Santo procede igualmente tanto por secreta emanação quanto por espiração(g). O Pai é mais corretamente considerado a fonte e origem de toda Deidade.
(a) 1co 8.6; Ef 4.6
(b) Jo 1.18 e 3.16; Rm 8.32
(c) Jó 1.6, 2.1 e 38.7
(d) Jo 1.12; Gl 3.26
(e) Jo 3.35 e 5.22s
(f) Sl 2.7; Hb 1.5s; Jo 1.18
(g) Jo 15.26; Gl 4.6; 1Co 2.11-12
3. Portanto, o Filho e o Espírito Santo, ainda que sejam divinos em relação à hipóstase, modo e ordem, verdadeiramente são distintos do Pai. Todavia, são verdadeiramente participantes da mesma Deidade do Pai, isto é, têm em comum a essência divina e absoluta natureza. Exatamente como, entre outras coisas, é provado dos nomes divinos(a), ou
títulos, também das propriedades e operações divinas(b) que são atribuídos abertamente a ambos ao longo das Sagradas Letras.
Aqui está a soma total do Credo dos Apóstolos, no qual professamos que cremos em um Deus, Pai Todo-Poderoso, etc. E em Seu Filho unigênito, etc. E, por último, no Espírito Santo.[2]
(a) Jo 1.1ss, 20.28; Rm 9.5; Cl 1.15ss; Hb 1.2s; Ap caps. 1-4, 5
(b) Is 11.1s, 63.10; 1Co 2.10ss, 3.16s, 6.19-20, 12.4 e 11; At 5.4, 13.2 e 20.28; Mt 12.31-32
4. Estas coisas são suficientes a este mistério, o qual, de fato, é totalmente necessário tratar com muita sobriedade, prudência e religiosidade. E fazer o quanto for possível, para enunciar nas próprias e expressas frases do Espírito
Santo, o que julgamos ser mais seguro, visto que o Espírito de Deus conhece melhor a Si mesmo(a) e pode expressar a Sua própria natureza mais retamente.
Todavia, na medida daquilo que é necessário e suficiente, Ele quis expressar isto a nós em Sua palavra. Por sua vez, devemos
segui-la reverentemente e com maior religiosidade, até finalmente vermos e perfeitamente conhecermos o próprio Deus em pessoa(b). Então, Ele poderá ser visto e conhecido mais claramente por nós num glorioso século futuro. Isto é o suficiente sobre o próprio Deus.
(a) 1Co 2.10ss; Jo 1.18; Mt 11.27
(b) 1Jo 3.2 e 1Co 13.12
Bibliografia:
The Arminian Confession of 1621, tradutor e editor Mark Ellis (Eugene: Pickwick Publications, 2005), 105-110pp.
Confessio, sive Declaratio, Sententiae Pastorum, qui in Foederato Belgio Remonstrantes vocantur, Super praecipuis articulis Religionis Christianae. (Herder-Wiici:
Apud Theodorum Danielis, 1622), 14-15pp.
[1] No original “improduzida”. O termo grego anaitios é traduzido literalmente por “incausado” (i.e. sem causa), mas a tradição latina preferiu o traduzir por “sem princípio” (N. do T.)
[2] Lutero já havia usado o mesmo Credo, ou Símbolo, dos Apóstolos em seu Catecismo Menor.
C.f. Catecismo Menor - Lutero (N. do T.)
C.f. Catecismo Menor - Lutero (N. do T.)
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