Por
SEA
O que aconteceria se a Confissão Belga e o
Catecismo de Heidelberg não apoiassem o calvinismo supralapsariano, mas a
teologia de Armínio? Ambas as obras sempre foram vistas como calvinistas, com a
suposição de que a linguagem predestinatória inerente se opõe ao arminianismo
reformado. Na verdade, até mesmo as declarações mais explícitas a respeito da
eleição para a salvação na Confissão e no Catecismo apoiam a doutrina da eleição
de Armínio. Um sínodo nacional não foi convocado antes da morte de Armínio em
1609, então nunca saberemos o que poderia ter ocorrido.
O que sabemos é que alguns calvinistas
supralapsários (tal como Francisco Gomaro) instigaram calúnias em relação aos
ensinamentos de Armínio, a ponto de seu nome se tornar sinônimo de socinianismo
(negação da Trindade e da divindade de Cristo), de catolicismo romano (salvação
orientada pelas obras), de semipelagianismo (negação da depravação total e incapacidade
total) – todos os quais nada mais eram do que mentiras abertas. Armínio uma vez
exclamou:
“... afirmo que esses bons homens [note que ele chamou
seus oponentes teológicos de “esses bons homens”] não compreendem os nossos
sentimentos, não conhecem as expressões que empregamos, e nem entendem o
significado dessas expressões. Em consequência disso, não é de surpreender que eles
se desviem, enormemente, da verdade, quando enunciam nossos sentimentos com as
palavras deles, ou quando anexam outros (isto é, os seus próprios) significados
às nossas palavras.”[1]
O estudioso de Armínio, Carl Bangs, escreve o
seguinte:
A Confissão Belga, artigo 14, afirma que o homem “desejosamente
se submeteu ao pecado e, dessa forma, à morte e à maldição”. Armínio poderia
apelar a isso em apoio à sua alegação de que o pecado não é uma necessidade do
decreto divino, e ele assim o fez em 1608 [um ano antes de sua morte, outubro
de 1609]. O mesmo artigo fala do falso ensino cerca do livre-arbítrio, “vendo
que o homem nada é, exceto um escravo do pecado e não tem receptividade ou habilidade
a menos que lhe sejam dadas do céu”. Armínio concordaria.
Artigo 16 lida com a eleição... Armínio não
contradisse este artigo, mas seus escritos realmente suscitam uma questão de
interpretação. Qual é a referência a “aqueles a quem Ele [...] escolheu”? Armínio
defende que são os que creem. Se essa interpretação for aceita, ele não tem problemas
com a Confissão.
O Catecismo de Heidelberg fala ainda menos sobre
predestinação, mas as Perguntas 20 e 54 vão direto ao ponto.
20. Pergunta: Todos os homens então serão salvos através
de Cristo assim como eles se tornaram perdidos através de Adão? Resposta. Não,
apenas aqueles que por fé reta são incorporados Nele e aceitam todos os Seus
benefícios.
54. Pergunta: O que cremos acerca da Igreja Cristã
universal? Resposta: Que o Filho de Deus reuniu, protegeu, e preservou para Si,
desde o início do mundo até o fim, de toda a família humana, através de Seu
Espírito e Sua Palavra, uma comunidade escolhida para a vida eterna, na unidade
da fé verdadeira, e da qual, portanto, eu sou e permanecerei eternamente um
membro vivo.
A pergunta 20 parece estar bem acomodada à tese de Armínio
de que a salvação é desejada para uma classe de crentes. A pergunta 54 permite
a interpretação e não faz especificação do modo da eleição. A questão acerca da
teologia de Armínio e as duas fórmulas podem bem tomar outra direção: não que “as
afirmações poderiam ser estendidas para acomodar as visões de Armínio?”, mas
sim que “elas poderiam ser estendidas para acomodar as visões de seus
oponentes?” Foi realmente essa segunda pergunta que perturbou os defensores da mais
antiga e mais moderada teologia holandesa. As confissões não deveriam ser
revisadas para remover as ambiguidades sob as quais os supralapsários se escondiam?
Em defesa dessa posição, pode ser dito novamente que as fórmulas foram escritas
antes da questão do supralapsarianismo ser levantada [sendo uma teoria tão nova
e sem apoio da história da Igreja], assim como o próprio Calvino não apresenta
uma resposta clara quanto a se ele é supralapsários ou sublapsário. Eu concluo
que Armínio se sentia em essencial concordância com a Confissão e o Catecismo,
que ele não os atacou, mas que, contudo, jamais esteve inteiramente satisfeito
com as fórmulas em razão de sua ambiguidade.[2]
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