Por Jesse Johnson
Estou cada vez mais convencido de que os dispensacionalistas entendem
por que a justiça social está fora do domínio da igreja, e que os outros –
especialmente e ironicamente os do movimento missionário – estão rapidamente perdendo
de vista a missão da igreja. Quando Tim Keller disse que, “É bíblico
que devamos aos pobres o máximo de nosso dinheiro que possamos dar," a
ética de Robin Hood gradualmente encobre o mandato da Grande Comissão. Outros
podem se contorcer, mas é preciso que um verdadeiro dispensacionalista diga que,
“a Bíblia simplesmente nunca ordena à igreja dar qualquer coisa aos pobres do
mundo, além do evangelho.”
Quando Jesus disse que, “os pobres vocês sempre tem consigo, mas a mim
vocês nem sempre terão” (Mt
26.11, Mc
14.7, Jo
12.8), levanta uma pergunta urgente: qual é o papel e a responsabilidade da
igreja quando confrontada com a pobreza? Não se discute que a pobreza existe na
terra desde o banimento de Caim. O que se discute é a razão disso, e então, por
implicação, o papel que a igreja tem em ministrar aos pobres.
A citação acima de Keller procedeu de uma entrevista para promoção de
seu livro mais recente, Justiça Generosa,
mas não é uma nova linha para ele. Voltando ao Ministérios de
Misericórdia, Keller disse que a igreja tem um mandato tanto pessoal
como corporativo para tentar reduzir as taxas de pobreza em nosso mundo, bem
como um chamado para cuidar dos sem-teto em nossa comunidade (p.21). Ele até
define o ministério de misericórdia como “satisfazer as necessidades que as
pessoas sentem por meio de atos concretos” e ele descreve o pecado como “alienação
de Deus, de si mesmo, dos outros e da natureza.” Isso, por sua vez, produz
necessidades teológicas, psicológicas, sociais e físicas, e a igreja deve ter
como seu objetivo a correção de todas essas necessidades” (46-52). Mesmo assim,
diz que “É bíblico que devamos aos pobres o máximo de nosso dinheiro que
possamos dar”, um tipo de dobrar a aposta sobre isso.
Provavelmente não é preciso dizer, mas eu discordo radicalmente de
Keller acerca disso. Eu me sinto como uma criança que diz que o imperador não
tem vestes, mas o fato da questão é que em nenhum lugar a Bíblia ordena à
igreja cuidar dos pobres do mundo, reduzir as taxas de pobreza na sociedade, ou
cuidar dos desabrigados em nossa comunidade. Não há um versículo sequer que ordene
isso, aliás há vários que até mesmo argumentam contra isso.
Embora alguns amilenistas ou pré-milenistas históricos possam
concordar com isso, geralmente é necessário que um dispensacionalista diga
abertamente que o NT não ordena que a igreja participe de esforços de justiça
social. É por isso que os dispensacionalistas são acusados de serem tão
pessimistas que não são de qualquer benefício terreno. Há trinta anos, Ryrie
escreveu que: “O pré-milenismo dispensacionalista é regularmente acusado de tal
pessimismo, a fim de torná-lo inútil no domínio da ética pessoal e social. Na
ética pessoal ele geralmente é caracterizado como negativo; na ética social
como impotente.”
Estou tranquilo em ser rotulado de pessimista, porque acredito fortemente
que o NT não ordena aos cristãos se envolverem no que é mal rotado como justiça
social. Até mesmo o próprio Keller tacitamente admite que não há mandamentos no
NT para a igreja a respeito dessas atividades (a parte da história do bom
samaritano, a qual
eu discuto aqui). O fato é que a igreja deveria estar usando seus recursos
para promover sua única missão no mundo, e essa missão é alcançar o perdido com
o evangelho.
Há distinções substanciais entre as visões dispensacionais e não
dispensacionais concernente a responsabilidade da igreja para com os pobres e o
papel do ministério de misericórdia na igreja local. O dispensacionalista
entende que os mandamentos dados a Israel concernente aos pobres não se aplicam
à igreja. O dispensacionalista entende que a forma como o testemunho de Deus
foi manifestado à Terra através de uma teocracia é diferente de como o
evangelho prossegue através da igreja, e essa mudança afeta a ética social. O
dispensacionalista entende que há implicações escatológicas em como a igreja segue
o ministério de misericórdia, e que erradicar a pobreza não é um meio de avanço
do reino.
Embora certamente alguns amilenistas concordem com alguns dos
parágrafos precedentes, estas são geralmente declarações bastante fáceis para o
dispensacionalista. Estas observações, embora óbvias para mim, são frequentemente
ignoradas por não dispensacionalistas. John Feinberg explica que os não dispensacionalistas
tendem a enfocar nos “elementos soteriológicos e espirituais” da Antiga
Aliança, deixando os dispensacionalistas enfatizar a estrutura “social,
econômica e política” de Israel no AT. Ele continuou a escrever que por causa da
natureza dos mandamentos da Torá concernentes aos pobres serem tão diferentes daquilo
que o NT ordena, que para discuti-los, na verdade, é necessário ver a
descontinuidade entre as duas alianças e, portanto, o dispensacionalismo. Ryrie
concorda que, acrescentando essas distinções entre AT e NT concernente ao
ministério de misericórdia ele só pode ser compreendido à luz das dispensações.
Há um perigo muito real que se reproduziu repetidamente através da
história, que, quando igrejas adotam uma visão para combater a pobreza, o
evangelismo é uma das primeiras vítimas dessa comissão alterada. De nenhuma
forma estou insinuando que Keller sacrificou o evangelismo, mas estou fazendo a
observação de que quando o dinheiro vai para o sopão, não para a missão. Para
evitar isso, a igreja nunca é ordenada a mostrar compaixão aos pobres como meio
para expandir o reino. Simplificando, você deve aos pobres o evangelho; Jesus
morreu para lhes comprar o privilégio de ouvir o testemunho de sua morte e
ressurreição (1Tm
2.6). Isto é tanto o mais quanto o menos que você pode dar, e a ética de
Robin Hood não se sobrepõe à Grande Comissão.
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