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A Queda: Adão e Eva - Rafael. |
Por Roger E. Olson
Um dos impulsos mais básicos do arminianismo é que Deus não é o
autor do pecado e do mal – mesmo que indiretamente. Sobre isto virtualmente
todos os conhecedores a respeito da teologia arminiana concordam. O
determinismo divino, a crença que Deus diretamente ou indiretamente determina
tudo o que acontece de acordo com um plano determinado foi rejeitado por
Armínio e tem sido rejeitado por todos arminianos desde então. Eu demonstrei
isso em Teologia Arminiana: Mitos e Realidades e Contra o Calvinismo. A teologia arminiana e o determinismo são
como água e óleo; eles não se misturam. A razão deles não se misturarem é por
causa do Grundmotif arminiano que é a bondade de Deus. Se o determinismo
for verdade, a queda e todas as suas consequências, incluindo o inferno eterno,
são parte do plano de Deus e se tornam necessários por Deus mesmo que apenas
indiretamente.
Em um agora famoso e muito discutido artigo em Sixteenth Century
Journal (XXVII:2 [1996]: 337-352) o teólogo holandês Eef Dekker perguntou
“Armínio foi um molinista?” e sua resposta foi afirmativa. (Molinismo é,
naturalmente, sinônimo da crença no conhecimento médio.) Vários dos principais
estudiosos de Armínio concordaram. O teólogo reformado Richard Muller concordou
em God, Creation, and Providence in the Thought of Jacob Arminius (Baker,
1991). (Ele chegou à mesma conclusão que Dekker.) O teólogo holandês William
den Boer concorda em God’s Twofold Love: The Theology of Jacob Arminius
(1559-1609) (Vandenhoek & Ruprecht, 2010). Agora, em dois estudos
recentes da teologia de Armínio três teólogos americanos concordam. (Estarei
respondendo aos dois livros deles em uma conferência profissional em novembro,
então não irei nomeá-los ou abordar seus argumentos diretamente agora.)
Então parece que há um consenso se desenvolvendo que o próprio Armínio
foi um “protestante molinista” e talvez tenha realmente introduzido o
molinismo, conhecimento médio, na teologia protestante. (Molina foi um católico
contemporâneo de Armínio.) Contudo, outros estudiosos de Armínio não têm tanta
certeza. Um dos estudos mais acadêmicos e exaustivos da teologia de Armínio é a
dissertação de doutorado de William G. Witt, para a Universidade de Norte Dame,
a qual eu usei extensivamente em Teologia Arminiana: Mitos e Realidades.
Witt defendeu que Armínio mencionou, mas não usou o conhecimento
médio. Outro estudioso de Armínio que concorda com Witt é F. Stuart Clarke, autor
de The Ground of Election: Jacob Arminius’ Doctrine of the Work and Person
of Christ (Paternoster, 2006).
Sem dúvidas alguém pode encontrar referências ao conhecimento médio
nos escritos de Armínio. A questão é se ele se baseou no conhecimento médio
para reconciliar a presciência de Deus com o livre arbítrio (e não há dúvidas
que ele acreditava no libre arbítrio libertário) e se usou o conhecimento médio
para explicar a soberania de Deus no governo providencial de todo o universo
incluindo as decisões e ações de criaturas livres.
Dekker defende que, ao usar o conhecimento médio, Armínio
inconsistentemente caiu no determinismo. Den Boer admite que mesmo se Armínio
usar o conhecimento médio isto não implicaria em determinismo, isto levantou
algumas questões sérias a respeito da consistência de Armínio – especialmente
no campo prático. Isto é, mesmo se o conhecimento médio não implique em determinismo,
ele transmite a impressão, pelo menos aos não doutos, que suas vidas estão
predeterminadas.
Eu já discuti aqui antes que crer no conhecimento médio de Deus, que o
conhecimento pelo qual Deus sabe não apenas o que acontecerá, mas também o que aconteceria,
não só o que criaturas livres farão, mas o que elas fariam livremente em
alguma situação possível, conjunto de circunstâncias, não é em si e de si mesmo
inconsistente com os impulsos básicos do arminianismo que têm a ver com a
bondade de Deus (seu “duplo amor”). Contudo, eu defendi, e continuo mantendo
que, uma vez que alguém crê que Deus usa o conhecimento médio para
tornar certo o que cada criatura faz o que elas fazem ao criá-las e colocá-las
em circunstâncias onde ele sabe que elas farão “livremente” alguma coisa, então
o determinismo está à porta, se não na sala de estar e isso é inconsistente com
os impulsos básicos do arminianismo. Isto faz de Deus o autor do pecado e do
mal mesmo se apenas inadvertidamente.
A fim de testar isto temos que voltar a primeira desobediência – a
queda de Adão e Eva. A questão não é se Deus sabia que eles
desobedeceriam, mas se Deus tornou certo este ato de desobediência.
Os defensores do conhecimento médio geralmente se apoiam na distinção
entre “certo” ou “infalível” e “necessário,” com somente o último tornando Deus
o autor do pecado e do mal. O argumento é que Deus usa o conhecimento médio
para tornar a queda certa, mesmo que infalivelmente (isto poderia não ter
acontecido dado a presciência de Deus do que Adão e Eva fariam e da sua criação
e colocação deles nessa situação) não torne a queda necessária.
Eu me inclino a achar que isso é uma distinção sem diferença.
Esse uso do conhecimento médio, providencialmente torna a queda certa,
necessariamente implica em um plano da mente de Deus que torna a queda não só
parte da vontade consequente de Deus, mas também parte da sua vontade
antecedente. E, como todos sabem e concordam, a distinção entre a vontade
consequente e antecedente de Deus é crucial para o argumento do arminianismo de
que Deus não é autor do pecado e do mal.
Por que Deus usaria seu conhecimento médio providencialmente? E por
que ele usaria isto em tudo se não para o propósito de providência meticulosa?
Muitos calvinistas usam o molinismo, conhecimento médio, para
“explicar” a predestinação e reprovação a fim de conseguir Deus “fora do
gancho,” por assim dizer, como o não autor do pecado e do mal. Eu acho isso,
por exemplo, de Millard Erickson e Bruce Ware – dois calvinistas evangélicos
que usam conhecimento médio como a “chave” para reconciliar soberania de Deus e
livre arbítrio humano. Contudo, eles pelo menos admitem que sua visão de
livre arbítrio é compatibilista – que o livre arbítrio é compatível com o
determinismo. Em outras palavras, se o
meu argumento está correto, eles “conseguiram isto” – o conhecimento médio
usado por Deus para vantagem providencial exige uma visão compatibilista de
livre arbítrio.
Com o melhor do meu conhecimento nenhum arminiano reivindica crer em
compatibilismo; todos abraçam o livre arbítrio libertário.
Mas, para mim, ao menos, o livre arbítrio libertário significa
“a capacidade de fazer o contrário do que alguém faz.”
Agora, reconhecidamente, os crentes arminianos no conhecimento médio,
incluindo os que creem que Deus usa o conhecimento médio para tornar certas as
decisões e ações das criaturas de acordo com um plano, reivindicam crer que as
criaturas que pecam o fazem com liberdade libertária. Em outras palavras, eles
poderiam fazer o contrário. Bem, pelo menos Adão e Eva poderiam ter feito o
contrário de desobedecer a Deus. (O cenário fica mais complicado para sua
posteridade sob os efeitos da queda.) Mas eles poderiam ter feito o
contrário?
Se o conhecimento médio é verdade e Deus o usa para uma vantagem
providencial, como Richard Muller diz, oferecendo incentivos para as criaturas
que Deus sabe que seguirão dadas suas disposições e inclinações, então Deus não
está apenas “no controle”, mas “realmente controlando” todas as coisas incluindo
a desobediência de Adão e Eva. Eles não poderiam ter feito o contrário, mesmo
que o fizessem “livremente”. Essa é a essência do compatibilismo!
Vamos usar uma ilustração. Suponha que eu conheça um dos meus alunos
tão bem que eu sei (além de qualquer possibilidade de estar errado) que,
se eu o orientar a ler um determinado livro, ele entenderá mal o assunto do
nosso curso e será reprovado. Sem o livro, ele seria aprovado no curso. Porém eu
o oriento a ler o livro. Por quê? Bem, talvez porque eu precise de alguém seja
reprovado no curso. Eu não tenho variação de notas e o deão está preocupado que
eu não estou mantendo os padrões acadêmicos. Todos os meus alunos são aprovados
com as melhores notas. Minha carreira está em perigo, assim como a
credibilidade acadêmica da escola. Então, eu uso o meu conhecimento médio das
disposições e inclinações para trazer o aluno infalivelmente a reprovação do
curso. Nada que eu fiz excluiu o seu livre arbítrio. Ele leu o livro
voluntariamente (nenhuma coerção externa foi usada, apenas indução). (Nota:
Nada disso aconteceria, é puramente hipotético.)
Agora, quem é realmente responsável pelo, o “autor do”, aluno ser
reprovado no curso?
Pode ser razoavelmente dito que, tornando certo a sua reprovação,
usando o meu conhecimento médio, eu não a torno necessária?
Agora, não há assunto em apelar à liberdade de Deus fazer o que quer
que ele quer fazer. Este é um debate entre arminianos e arminianos, seguindo
Armínio, não são nominalistas. Todos nós concordamos que Deus é essencialmente
bom por natureza e não pode simplesmente fazer qualquer coisa capaz de ser posta
em palavras. Nenhum arminiano informado diria: “Tudo o que Deus faz é
automaticamente bom, só porque Deus o faz.” Então essa objeção ao meu cenário
não é relevante para este contexto – um debate entre arminianos.
Tenho a tendência de concordar com Eef Dekker, contra vários dos
principais estudiosos de Armínio, que se Armínio usou o conhecimento
médio para explicar a soberania de Deus, então ele inconscientemente se
contradisse. Ele contradisse o seu próprio princípio mais básico, que é que
Deus não é de modo algum o autor do pecado e do mal. Ele involuntariamente caiu
no determinismo nesse ponto e não deveria ter se baseado no conhecimento
médio. Por que ele fez uso, se ele fez, é uma questão separada. Eu acho que
respostas razoáveis podem ser imaginadas (tendo a ver com seu desejo de
construir pontes entre ele e seus críticos).
Então o que isso significa para arminianos? Eu certamente não direi
que é impossível ser arminiano e molinista. O que direi é que, na minha
opinião, o molinismo é um corpo estranho no arminianismo, mesmo se o próprio
Armínio o usasse! Se ele o fez, foi um corpo estranho em sua própria
teologia, no sentido de que ele estava em conflito com seus próprios
compromissos básicos de crença sobre a bondade de Deus, Deus não sendo em
nenhum sentido o autor do pecado e do mal, e o livre arbítrio das criaturas (especialmente
em desobediência).
Ninguém deveria se surpreender se um teólogo cai em contradição
consigo mesmo às vezes – especialmente se ele (ou ela) escreve muito durante um
longo período de tempo. Eu sou um teólogo histórico e estudei as teologias de virtualmente
todos os grandes teólogos cristãos de Irineu a Pannenberg (e além). Em cada
caso eu encontro alguma tensão, algum elemento de conflito dentro do próprio
sistema do teólogo.
Além disso, ser arminiano não exige concordância absoluta com Armínio.
Se fosse esse o caso, ele teria sido o único arminiano (e talvez nem mesmo ele
fosse!).
Fonte: Roger E.
Olson Blog
Molinismo é ridiculo, torna a queda plano de Deus, torna a traição de Judas plano de Deus, ai eu digo, cadê o livre arbítrio de Judas? Como que a culpa é de Judas se o mundo que Deus criou foi exatamente pra Judas trair a Jesus, então a culpa não e de Judas, sou arminiano e não vejo como o molimismo não leva pra Deus a culpa dos pecados, molinismo esta mais proximo do calvinismo do que do arminianismo, é muito mais facil eu zendo arminiano de 5 pontos simplismente dizer que Deus sendo bom cria o Mundo bom com criaturas livres e ai ele sabe o que cada uma delas fará livremente,é melhor eu dizer isso , que dizer que Deus tornou certa a ação das criaturas atraves dl conhecimento médio mas msm assim a culpa não é dele, molinismo é ridiculo, portanto Deus simplismente criou e soube o que aconteceria de antemão, ele não causou e nem escolheu dentre mundos possoveis, ele simplismente criou e por ser Deus sabia tudo que ia acontecer, sem ter tornado certo nada.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ExcluirMolinismo é incoerente, expoe um livre arbítrio falso, onde na verdade ja esta tudo predefinido.
ExcluirDanilo, segundo o molinismo, mesmo que Deus tenha decidido criar um mundo em que Adão e Eva comeriam do fruto proibido, a culpa não é dele. Os requisitos para satisfazer a liberdade é (segundo os molinismo):
ExcluirA) A ação tem de vir de você.
B) Você poderia fazer diferente do que fez.
Ou seja, mesmo que Deus tenha decidido criar um mundo em que Adão e Eva comeriam do fruto proibido, a culpa continua sendo deles, e eles são livres, pois a a ação de comer o fruto proibido foram deles, e eles poderiam fazer diferente.
O Molinismo aproxima-se mais do calvinismo do que do arminianismo, pois, no caso de Adão e Eva, por exemplo, segundo Molina, Deus escolheu, entre os mundos possíveis, aquele em que, mediante os fatos que lhes foram apresentados (pelo próprio Deus), Adão e Eva escolheram livremente pecar.Isso difere totalmente do arminianismo, pois Armínio pregou que Deus, ainda que tenha o conhecimento contrafactual, seria incapaz de escolher um mundo em que Adão e Eva pecariam...isso por causa do Seu caráter (boníssimo, perfeitíssimo, amorosíssimo). Ou seja, para Armínio, Deus certamente escolheria, entre os mundos possíveis, um em que Adão e Eva não pecariam.
ExcluirO problema do calvinismo e molinismo é a crença de que Deus não é honesto quando fala de Si mesmo. Deus quer salvar e não quer salvar, o que cria, na melhor das hipóteses, uma face de Deus desconhecida, contraditória e maligna. Se eu entendi bem, o Deus Molinista faz um mundo, "dentre todos os possíveis" - seja lá o que isso quer dizer, visto que jamais saberemos qualquer verdade contingente - e propositalmente orienta algumas pessoas para a perdição. É determinismo puro e simples, pois ou essa pessoa não poderia ser salva em nenhuma realidade possível, ou Deus "rouba" a oportunidade dessa pessoa ser salva, visto que, em outro contexto, ela escolheria livremente segui-lO. Como afirma Silas Daniel: "Ainda que se acredite que Deus use desse recurso a todo instante, [conhecimento médio] somos forçados a crer, devido ao que a própria Bíblia afirma sobre o caráter divino e o desejo de Deus pela salvação de toda a humanidade (Jo 3.16; 1Tm 2.3,4; 1Jo 4.8 etc), que Ele nunca o faria com o propósito de evitar, por todos os meios, a salvação de alguém, pois isso tornaria Deus coautor do pecado, um dos causadores do mal moral. Além disso, não há garantia de que Deus, apenas atualizando cenários, possa levar, indubitavelmente, o coração de qualquer pessoa a amá-lO sinceramente. Seja como for, o que podemos afirmar com certeza, com base na verdade bíblica do conhecimento divino do futuro contingente condicional, é que o Deus da Bíblia não é onisciente porque predeterminou todas as coisas, mas simplesmente porque é Deus. Pois se Ele tem o poder de conhecer até mesmo o futuro contingente condicional, quanto mais conhecer previamente as coisas que certamente ocorrerão! Quem tem tal poder não precisa predeterminar todas as coisas para conhecer previamente todas as coisas."
ResponderExcluirPor fim, o próprio conceito de "Deus oculto" é ofensivo, visto que o próprio Deus já fez a maior das auto-revelações: Jesus Cristo. Não há "deus oculto", há O Deus Revelado. Para os cristãos, toda a Bíblia tem que ser interpretada em mente a face de Jesus, que assim como o Pai e o Espírito, demonstram o maior dos cuidados, amor e verdade inimagináveis. É a vontade de Deus que nenhum se perca. Mesmo assim, Ele nos deu a graça de escolhe-lO, pois o verdadeiro amor e a verdadeira adoração precisam ser voluntárias. O contrário disso seria coerção e bajulação.
Eu minha humilde opinião o fato de o próprio Armínio citar o conceito de Conhecimento-Médio em seus escritos mostra que ele acha a idéia muito plausível. Logo entendo que enquanto ele rejeitava o Calvinismo, por outro lado ele via o Molinismo como uma opção viável. Mas vc é livre pra pensar diferente.
ResponderExcluirOlá senhor desconhecido! Os especialistas em Armínio não são unânimes sobre como ele via o conhecimento médio, pois embora ele o cite literalmente há aqueles que entendem que Armínio estava apenas colocando os tópicos acerca de como o assunto da onisciência era trabalhada na teologia da época. Há outros que entendem que embora Armínio cite o conhecimento-médio a sua visão diferia significativamente da de Molina. Talvez não haja elementos históricos suficientes para chegarmos a uma conclusão cabal sobre o entendimento dele a respeito desse tema.
ExcluirMolinismo está bem mais para o Calvinismo do que para o arminianismo. Essa tal " liberdade" ensinada pelo molinismo, tá bem mais para compatibilismo, do que para liberdade libertária.
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