![]() |
Aparição de Cristo a Maria Madalena - Alexander Ivanov, 1835. |
O Inadequado Precedente Histórico para
"Uma vez salvo, sempre salvo"
Steve
Witzki
John Jefferson Davis escreveu um
artigo intitulado: “A Perseverança dos Santos: Uma História da Doutrina” [Journal
of Evangelical Theological Society 34: 2 (Junho de 1991)]. Três coisas
tornam este artigo de grande valor. Primeiro, ele foi escrito por um renomado e
altamente respeitado teólogo calvinista. Segundo, ele abrange as pessoas chave
e os grupos religiosos sobre o tema. Terceiro, ele demonstra que o “uma vez
salvo, sempre salvo” ou segurança eterna incondicional não era uma doutrina que
foi ensinada pela igreja antiga e, nem de forma alguma, por qualquer teólogo renomado
antes de João Calvino. Essa doutrina é, de fato, completamente estranha na
história do cristianismo.
Embora a primeira discussão
extensa sobre a doutrina da perseverança dos santos se encontre no Tratado
sobre o Dom da Perseverança de Agostinho, escrito em torno de 429 d.C., Agostinho
acreditava que era possível experimentar a graça justificadora de Deus e ainda
não perseverar até o fim. Agostinho acreditava que os eleitos de Deus
certamente perseverariam até o fim, mas ele negou que uma pessoa pudesse saber
que estava entre os eleitos e também advertiu que era possível ser justificado,
mas não estar entre os eleitos. Não até Calvino conectar tudo: eleição
incondicional, regeneração permanente e a certeza da perseverança final.
James Akin, um teólogo católico,
disse em um debate com o teólogo calvinista James White que ninguém antes de
Calvino ensinou que a predestinação à graça acarreta automaticamente a
predestinação à glória.
Você pode verificar isso por si
mesmo. Eu fiz isso. Pesquisei em vários livros e liguei para meia dúzia de
seminários calvinistas, conversando com seus teólogos sistemáticos e
professores de história da igreja, e ninguém pode nomear uma pessoa antes de
Calvino, que ensinou essa tese. Todos disseram que Calvino foi o primeiro.
Cheguei a ligar para John Jefferson Davis, um erudito que publicou um artigo no
Journal of the Evangelical Theological Society sobre a história desta
doutrina, um homem que é ele mesmo um calvinista, mas que pesquisou a história
desta doutrina completamente, e ele disse que Calvino foi o primeiro a ensiná-la.
Isto coloca um problema até mesmo aos
que afirmam tirar os seus ensinamentos exclusivamente da Escritura, ou seja, “Como
poderia uma doutrina tão importante – se for verdadeira – permanecer completamente
desconhecida pelos primeiros 1500 anos da história da Igreja e, se Jesus tivesse voltado em algum momento, entre estes três
quartos de toda a história da Igreja?”
Outras importantes doutrinas têm sido
conhecidas por toda a história cristã. Os cristãos sempre souberam, mesmo
quando os hereges a negavam, que Jesus Cristo era Deus. Os cristãos sempre
souberam, mesmo quando os hereges a negavam, que Jesus Cristo é plenamente
homem e plenamente Deus. E os cristãos sempre souberam, mesmo quando os hereges
a negavam, que eram salvos puramente pela graça de Deus.
Então, quando se descobre que os
cristãos nunca souberam que os verdadeiros cristãos jamais podem
apostatar e, então, de repente, 1500 anos depois, alguém começa a reivindicá-la,
é preciso se perguntar quem está transmitindo o verdadeiro ensinamento dos
apóstolos e quem está ensinando a heresia. “Todos os Verdadeiros Cristãos Estão
Predestinados a Perseverar?”
As observações de Akin são
precisas e problemáticas para os estudiosos calvinistas. Além disso, o
calvinista não se sai melhor quando se olha ainda mais profundamente para o que
os primeiros cristãos acreditavam a respeito deste assunto. Em 1998, Hendrickson Publishers publicou A Dictionary of Early
Christian Beliefs: A Reference Guide to More than 700 Topics Discussed by the
Early Church Fathers. Sob o tópico da
“Salvação”, encontramos a pergunta: “Os que estão salvos jamais podem se perder?”
Depois de várias passagens bíblicas serem citadas [2 Cr 15.2; Ez 33.12; Mt 10.22;
Lc 9.62; 2Tm 2.12; Hb 10.26; 2Pe 2.20-21], cinco páginas de citações são dadas
a partir dos escritos dos primeiros líderes cristãos. Estas citações dão a evidência
de que a igreja primitiva não acreditava em “uma vez salvo, sempre salvo.” Eles
ensinaram que era possível para um crente genuíno rejeitar a Deus e acabar
eternamente separado de Deus no inferno [pp. 586-591].
David Bercot, editor deste
dicionário, também escreveu um livro provocativo chamado, Will the Real Heretics Please Stand Up? É preciso que a igreja evangélica de hoje, tanto em seu estilo de vida
quanto ensino, olhe para isto à luz do ensino cristão primitivo. Esse é
um livro interessante que vem de alguém que leu todas as obras dos Pais Pré-Nicenos
mais de uma vez. Ele escreve,
Visto que os primeiros cristãos
acreditavam que nossa fé e obediência contínuas são necessárias para salvação,
naturalmente segue que eles acreditavam que uma pessoa “salva” poderia ainda
acabar se perdendo. Por exemplo, Irineu, o pupilo de Policarpo, escreveu: “Cristo
não morrerá novamente em favor daqueles que agora cometem pecado porque a morte
não mais terá domínio sobre Ele... Portanto, não devemos estar inchados... Mas
devemos ter cuidado para que, de alguma forma, depois de [termos vindo ao]
conhecimento de Cristo, se fizermos coisas desagradáveis a Deus, não obtermos
mais perdão dos pecados, mas sim sermos excluídos de Seu reino” (Hb 6.4-6) [p.
65].
O que a Igreja Cristã acreditou
historicamente a respeito da segurança do crente não é o teste final para
determinar a nossa posição sobre esta questão hoje, mas a falta de precedentes
históricos deve servir como um aviso. Antes de João Calvino, o ensino da
segurança eterna incondicional não era uma doutrina que foi ensinada
pela igreja universal através dos séculos. Portanto, enquanto as Escrituras são
o teste final para a verdade sobre esta questão, “uma vez salvo, sempre salvo”,
os professores precisam reconhecer que sua doutrina é historicamente uma
anomalia. Além disso, a marca do ensino “uma vez salvo, salvo sempre” que diz
às pessoas que elas podem parar de acreditar e ainda estar no seu caminho para
o céu (mas com menos recompensas) não se encontra em nenhum lugar no
cristianismo histórico antes do século XX.
Fonte: The Arminian
Postado originalmente em: Paleo-Ortodoxo
Imprima este artigo em PDF
Comentários
Postar um comentário