Podem os cristãos perderem sua salvação ao recusarem o senhorio de Cristo?
Introdução
Em um artigo anterior, eu discuti brevemente a posição doutrinária da perseverança dos santos, segurança eterna, ou, uma vez salvo, salvo para sempre. Aqui, porém, discutirei de forma mais completa.
A doutrina da segurança eterna ensina que uma vez que a pessoa experimenta a salvação, nada pode fazê-la perder esse status. Millard J. Erickson afirma: “A posição Calvinista é clara e decisiva neste assunto: ‘Eles, a quem Deus tem aceitado, que foram chamados, e santificados pelo Seu Espírito, não podem perder nem totalmente nem definitivamente o estado da graça, mas deve perseverar até o fim, e serem eternamente salvos’”. (WESTMINTER CONFESSION OF FAITH, 17.1).
Henry C. Thiessen adiante afirma: “De acordo com a afirmação de que eles ‘não podem perder nem totalmente nem definitivamente o estado da graça’. Isso não é equivalente a dizer que eles nunca poderão ter uma recaída, nunca pecarão, ou nunca deixarão de louvar a Aquele que os chamou das trevas para Sua maravilhosa luz. Apenas significa que eles nunca perderão totalmente o estado da graça e retornarão ao lugar de onde eles foram tirados.”
Assim como a expiação limitada, Agostinho popularizou no século V a.C. a doutrina da perseverança dos santos. A Igreja Católica Romana finalmente adotou seus ensinos sobre esse assunto como doutrina oficial. Foi a posição comumente aceita no tempo da Reforma Protestante. Líderes da Reforma, como João Calvino, também a aceitou e promoveu juntamente com uma série de outras doutrinas e práticas católico-romanas préreforma. Dessa maneira, a segurança eterna adentrou nos sistemas doutrinários de diversas denominações protestantes modernas de hoje.
A tradição arminiana-wesleyana de santidade e as Assembleias de Deus que cresceram fora disso têm historicamente rejeitado a crença da segurança eterna. O website oficial das AD afirma: “As Assembleias de Deus tomaram uma posição contrária ao ensinamento de que a soberania de Deus substituirá completamente o livre arbítrio do homem para que este O aceite e O sirva. Em virtude disto nós acreditamos que é possível que uma pessoa uma vez salva se afaste de Deus e esteja perdida novamente”.
Muito embora as Assembleias de Deus tenham tomado uma posição forte e inequívoca, as pessoas a quem ministramos podem não entender essa doutrina ou nossa posição em relação a este assunto.
As pessoas em nossas congregações geralmente trabalham com outras que acreditam em segurança eterna. Elas precisam saber como refutar as crenças de seus colegas de trabalho. Por isso, é importante que os pastores ensinem os argumentos usados pelos proponentes da perseperseverança dos santos/segurança eterna, as respostas apropriadas para suas afirmações e a base bíblica da nossa posição: crentes podem voluntariamente perder sua salvação se se afastarem do senhorio de Cristo.
Há, com certeza, crenças diversas com relação à segurança eterna dentro do Calvinismo. Por exemplo, uma visão extrema argumenta que Deus levará um crente para casa porque ele não endireita sua vida e tornou-se um estorvo para Ele. Outros que acreditam em segurança eterna, mas não acreditam que esta dê licença para pecar: “Por outro lado, porém, nosso entendimento da doutrina da perseverança não permite a indolência nem a negligência. É questionável se uma pessoa que racionaliza, ‘Agora que eu sou um cristão, posso viver como eu quiser’, foi realmente convertida e regenerada. A fé genuína surge, ao contrário, no fruto do Espírito.”
Crentes podem voluntariamente perder sua salvação se se afastarem do senhorio de Cristo.
Proponentes também argumentam que, uma vez que a pessoa e Deus se unem, esse laço nunca pode ser desfeito; apelam para João 6.37, “Tudo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora.” Não podemos dizer, porém, que este texto exclua a possibilidade de que alguém possa escolher ir embora (compare com João 17.12).
João 10.27,28 também é usado para sustentar a doutrina da SE: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheçoas, e elas me seguem; e dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará das minhas mãos.”
A estes versículos podemos também acrescentar Romanos 8.35,39: “Quem nos separará do amor de Cristo? ... Nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor!”
Deve-se observar também que o tempo presente no grego denota ação contínua. Esse versículo é traduzido literalmente como “As minhas ovelhas continuam ouvindo a minha voz, e eu continuo conhecendo-as, e elas continuam me seguindo; e continuo dando-lhes a vida eterna.” Significa que o fato de não perecermos depende da nossa ação contínua de ouvir e de seguir a Jesus, tema que ecoa em toda a Bíblia. Ao contrário de sustentar a SE, este texto sustenta a possibilidade de um crente se afastar de Deus se rejeitar a continuar a obediência a Cristo.
Usando João 15.1-11, proponentes afirmam “Se os crentes se fizeram um em Cristo e Sua vida flui neles (Jo 15.1-11), nada pode anular essa conexão.” Mas o capítulo 15 inteiro mostra a possibilidade de essa conexão ser quebrada.
A palavra traduzida como permanecer em todo o capítulo 15 é meno, que significa ficar, continuar. Portanto, Jesus diz, “Toda vara em mim que não dá fruto, a tira...Se alguém não permanece [fica, continua] em mim, será lançado fora, como a vara, e secará; e os colhem e lançam no fogo, e ardem.” (Jo 15.2,6). A próxima seção começa com Jesus declarando, “Tenho-vos dito essas coisas para que vos não escandalizeis.” (Jo 16.1). Se afastar-se de Deus não fosse uma possibilidade nítida, Jesus não teria falado sobre o assunto.
Alguns adeptos da SE apontam para as palavras de Paulo em Filipenses 1.6 para apoio, “Tendo por certo isto mesmo: que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao Dia de Jesus Cristo.”
Lendo os versículos 1-11, porém, torna-se claro que o que Paulo estava seguro era o fato do desejo dos filipenses de forçarem a maturidade – a única segurança real do crente. Isto é sustentado pela advertência aos filipenses para “operar a vossa salvação com temor e tremor.” (2.12). Além disso, após notar que mesmo seu próprio destino eterno ainda não estava escrito nas pedras (3.12,13), e para ter certeza de sua vida eterna, Paulo se esforçou para uma maior maturidade e obediência (3.14). Ele exortou os filipenses a seguirem seu exemplo e evitarem seguir o exemplo daqueles cujo fim é a destruição (3.17-19).
As pessoas, às vezes, apelam para Hebreus 7.25, “Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles.” Defensores entendem que a palavra sempre se refira àqueles que se aproximam de Deus para salvação. O contexto imediato, porém, e a mensagem do livro de Hebreus requerem a frase para se referir a Jesus e a duração de tempo em que Ele, como Sumo Sacerdote, é capaz de prover a expiação a qual faz com que a salvação seja possível não para a segurança eterna do crente (compare também os vv. 3,17,21,25; 5.6; 6.20).
Mas o texto favorito daqueles que adotam a SE é 1 João 2.19, “Saíram de nós, mas não eram de nós; porque, se fossem de nós, ficariam conosco; mas isto é para que se manifestasse que não são todos de nós.” Adeptos usam essa passagem para afirmar que aqueles que pararam de seguir a Cristo nunca tinham experimentado a salvação. Existem várias coisas que devemos examinar neste versículo.
Primeiro, o texto não afirma explicitamente o que os proponentes de SE asseveram que afirme (que separação significa que a salvação deles não era real). João estava escrevendo depois de sua deserção e observando que o abandono era prova de que eles não pertenciam mais à comunidade dos remidos. João os estava comparando àqueles que tinham resistido aos falsos ensinamentos, continuado a adotar a verdade e persistido em permanecer em Cristo (v. 24).
Segundo, o contraste entre as respostas de ir embora e permanecer/ficar relembram os próprios ensinamentos de Jesus em João 15, onde Ele descreveu membros do corpo de Cristo que falham em permanecer, não continuam a produzir frutos, secam e são finalmente lançados fora.
Terceiro, ambos os AT/NT estão repletos de exemplos de pessoas e grupos que estavam, em algum ponto, claramente ao lado de Deus mas que depois repudiaram Seu senhorio (Gn 4.3-16 [comp. Jd v. 11]; Êx 32.32, 33; Nm 3.2-4; 4.15-20; 16.1-33; 22.8, 12,19,20,32-35; 24.1,2,13; 31.7,8; 1Sm 10.1-7,9-11; 13.8-15; 16.14,31; Jo 6.66 [comp. v. 67]; 1Co 5.1-13; 1Tm 1.19, 20; 2Tm 1.15; 2.17,18; 4.10; Tt 1.12- 16; Hb 12.15-17; 2Pe 2.1; Ap 2.6,15 [comp. At 6.5; HISTÓRIA ECLESIÁSTICA – Eusébio 3.29, 20]).
Argumentos que Advertem os Crentes sobre a Possibilidade da Apostasia
Devemos nos refamiliarizar com passagens que sustentem nossa doutrina.
Às vezes, os adeptos do Arminianismo não têm articulado claramente sua posição doutrinária. Temos usado a expressão perder sua salvação, como se esse ato pudesse ser acidental, não intencional e o resultado de um deslize momentâneo. Os detratores têm justamente atacado essa frase como uma reflexão imprecisa das Escrituras. Por isso, devemos nos refamiliarizar com passagens que sustentem nossa doutrina e então articularmos de uma maneira que reflita apropriadamente o ensinamento da Palavra de Deus.
Os ensinamentos arminianos-wesleyanos sobre santidade e Pentecostes sustentam que os crentes mantêm seu livre arbítrio mesmo após a salvação. As Escrituras ensinam que aqueles que confiam e obedecem a Jesus são ainda mais livres após a salvação do que antes (Jo 8.36; Gl 5.1,13), não menos. Nossa doutrina pode ser descrita pelas frases bíblicas “da graça tendes caído” (Gl 5.4), “apartar do Deus vivo” (Hb 3.12) e “recaíram.” (Hb 6.6).
Deus não invadirá ou violará o livre arbítrio que Ele propositalmente criou no homem.
A palavra apostasia é a transliteração da palavra grega apostasia do NT. Referências observam que essa palavra e sua forma verbal incluem essas nuanças: tomar uma posição, cometer deserção ou traição política, separar de, afastar-se de, induzir a revolta, retirar, desviar, desaparecer, cessar toda interação com, desertar, pôr de lado (como em divórcio). Nenhum desses itens sugere uma perda de pacto como resultado de uma brecha acidental ou temporária de padrões estabelecidos de santidade. Ao contrário, todos eles implicam a previsão, intenção e estado persistente de rebelião contra a autoridade de Jesus sobre a vida de alguém.
Deus criou o homem à Sua imagem e semelhança (Gn 1.26). Em parte, isto significa que da mesma forma que Deus pensa, planeja, raciocina e decide, o homem também o faz.
Embora a queda tenha parcialmente apagado a imagem de Deus estampada sobre a humanidade na criação, esses outros atributos certamente não o foram. Além disso, Deus não invadirá ou violará o livre arbítrio que Ele propositalmente criou no homem de aceitar ou não a Cristo.
No AT, Deus tratou com os israelitas quase que exclusivamente através de pactos condicionais. Deus continuou a adverti-los para que cumprissem suas obrigações no pacto ou o relacionamento com Ele poderia ser anulado (compare Êx 32.33; Lv 22.3; Nm 15.27-31; Dt 29.18-21; 1Re 9.6,7; 2Re 17.22, 23; 24.20; 1Cr 28.9; 2Cr 7.19-22; 15.2; 24.20; Sl 69.28; Is 1.2-4; 59.2; Jr 2.19; 5.3,6,7; 8.5,12; 15.1,6,7; 16.5; Ez 3.20; 18.12,13; 33.12). A graça estava disponível no AT (Êx 34.6, Nm 6.25; Jr 3.12), mas como no NT, a graça nunca foi uma desculpa para se continuar em pecado e nunca diminui as exigências de um pacto (compare Jo 1.16,17; Rm 6.1,2; 8.7-11; Lc 12.48; compare também Rm 1.31, “incrédulos” ou “pérfidos”).
Os Evangelhos
Jesus ordenou que os membros da comunidade da aliança que persistiam na falta de não se arrepender fossem colocados para fora da igreja e tratados como excluídos da aliança.
João, o Batista, audaciosamente proclamou, “E também já está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não dá bom fruto é cortada e lançada ao fogo.” (Mt 3.10; Lc 3.9). De fato, Jesus começou Seu ministério reiterando esta mesma mensagem (Mt 7.19).
Jesus também ensinou que se não estivermos predispostos a perdoar, removemos a possibilidade de recebermos o perdão de Deus (Mt 6.15). No contexto histórico original de Jesus e no contexto canônico de Mateus, a nova comunidade em aliança – composta por crentes – Jesus disse que apenas aqueles que resistirem até o fim serão salvos (Mt 10.22; 24.13), e que se O negarmos diante dos homens, Ele nos negará diante do Seu Pai (Mt 10.33). Quando disse, “todo pecado e blasfêmia se perdoará aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito Santo não será perdoada aos homens.” (Mateus 12.31), Ele não fez distinção entre os salvos e os não salvos.
Na parábola do Semeador, a semente caía na terra e começava a produzir frutos, mas várias circunstâncias finalmente a destruíram (Mt 13.3-23). Em Mateus 18.15-17, Jesus ordenou que os membros da comunidade da aliança que persistiam em falta de não se arrepender fossem colocados para fora da igreja e tratados como excluídos da aliança. Jesus também advertiu que, nos últimos dias, falsos messias “enganarão muitos” (Mt 24.5) e, durante a perseguição, “muitos seriam escandalizados” (Mt 24.10). O versículo 24 recorda os ensinamentos de Jesus em que falsos messias e falsos profetas “desviariam, se possível, até os escolhidos.”
Defensores da SE acham que a frase “se possível” aponta para uma situação hipotética e mostra que não é possível que alguém perca a fé. Este argumento, porém, não considera o contexto maior (Mt 24.5,10) ou outros textos (1Ts 4.1,2) que claramente afirmam que alguns crentes nos últimos dias se desviariam da fé por diversas razões.
Lucas relatou que Jesus ensinava que “Ninguém que lança mão do arado e olha [continuamente] para trás é apto para o Reino de Deus” (Lc 9.62). O contexto esclarece o significado da metáfora. O mesmo pode ser dito acerca de Lucas 14.34,35, “Bom é o sal, mas se ele degenerar, com que se adubará? Nem presta para a terra, nem para o monturo; lança-os fora. Quem tem ouvidos, que ouça” (sobre os ensinamentos de Jesus, ver mais em Mt 7.16,17,21,24,26; 10.38; 18.23-35; Lc 9.23ss; 14.25-33).
Ensinamento Paulino
Paulo advertiu os coríntios que acreditar em uma versão errada das boas-novas poderia pôr em perigo sua salvação.
No campo missionário, após terem “feito muitos discípulos”, Paulo e Barnabé retornaram às igrejas que haviam levantado anteriormente, fortaleceram os discípulos e os encorajaram a continuarem na fé (At 14. 21,22). Poderia ter sido um desperdício de tempo e energia se apostasia não fosse uma opção. Mais tarde, Paulo advertiu os líderes da igreja em Éfeso que “...entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não perdoarão o rebanho. E que, dentre de vós mesmos, se levantarão homens que falarão coisas perversas, para atraírem os discípulos após si.” (At 20.29,30.)
Nas cartas de Paulo, seu ensinamento não era diferente de suas pregações em Atos. Ele advertiu as igrejas em Roma, “Porque, se Deus não poupou os ramos naturais, [Israel], que te não poupe a ti também [cristãos em Roma]. Considera, pois, a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; mas, para contigo, a benignidade de Deus, se permaneceres na sua benignidade; de outra maneira, também tu serás cortado.” (11.21,22). Ele também os desafiou, “Mas, se por causa da comida se contrista teu irmão, já não andas conforme o amor. Não destruas por causa da tua comida aquele por quem Cristo morreu.” (14.15; compare também 1Co 8.11, onde os mesmos termos aparecem).
Em 1 Coríntios 5. 1-13 (compare também 2Ts 3.6, 14). Paulo desafiou os coríntios a excomungarem as pessoas que vivessem em pecado (compare Mt 18.15-17). Ele repreendeu os libertinos na igreja de Corinto por deixarem com que sua liberdade causasse destruição do “irmão fraco, pelo qual Cristo morreu” (1Co 8.11). “Irmão” indica que todos envolvidos são membros de uma mesma comunidade de aliança. Acreditava que existia a possibilidade de que mesmo ele pudesse ser um náufrago na fé (1Co 9.27).
Paulo, mais adiante, advertiu os cristãos em Corinto de que este poderia ser o destino deles também e que poderiam acabar como os israelitas que morreram no deserto (1Co 10.1-13). “Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe que não caia.” (v. 12).
Paulo também advertiu os coríntios que acreditar em uma versão errada das boas-novas poderia pôr em perigo sua salvação: “Também vos notifico, irmãos, o evangelho que já vos tenho anunciado, o qual também recebestes e no qual também permaneceis; pelo qual também sois salvos, se o retiverdes tal como vo-lo tenho anunciado, se não é que crestes em vão.” (1Co 15.1,2).
Mais adiante, desafiou-os novamente, “Examinai-vos a vós mesmos se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não sabeis, quanto a vós mesmo, que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados.” (2Co 13.5). Este desafio é similar àquele que fez à igreja dos colossenses: Jesus os apresentaria inculpáveis perante Deus, mas apenas se [eles] “permanecerdes fundados e firmes na fé.” (Cl 1.21-23).
Às igrejas de Gálatas Paulo exclamou: “Maravilho-me de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro evangelho.” (Gl 1.6). Em Gálatas 4.1-11, ele descreveu a progressão em que os cristãos gálatas passaram de escravos para filhos e então para escravos novamente. Na conclusão dessa seção, Paulo disse, “Eu temo por vocês, que talvez, eu tenha trabalhado com vocês em vão.”
Àqueles que haviam sido salvos pelo sangue de Jesus mas aceitado o Evangelho “plus” dos judaizantes que acrescentaram circuncisão ao Ordo Salutis (caminho da salvação), Paulo proclamou, “Separados estais [kataergo: rompido, esvaziado, anulado de, cancelado de, trazido ao fim, destruído, aniquilado] de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes caído [ekpipto: cair de, confiscar, perder, causar o fim] .” (Gl 5.4).
À igreja dos filipenses, Paulo afirmou ter sofrido a perda de todas as coisas “para conhecê-lo, e a virtude da sua ressurreição, e a comunicação de suas aflições, sendo feito conforme a sua morte; para ver se, de alguma maneira, eu possa chegar à ressurreição dos mortos.” (Fp 3.10,11). Se a salvação de Paulo fosse decisiva e nada pudesse mudar seu status com Deus, ele não estaria ciente disso. Paulo levou a sério a ruína espiritual na vida de alguns de seus companheiros mais próximos porque, no mesmo contexto, ele falou à igreja de Filipos sobre as pessoas que haviam sido crentes muito conhecidas, mas que lamentava agora por “serem inimigos da cruz de Cristo.” (Fp 3.18).
Quando Paulo instruiu pastores, a mensagem foi a mesma: “Mas o Espírito expressamente diz que, nos últimos tempos, apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios.” (1Tm 4.1; compare 2Tm 4.3,4).
As Epístolas Gerais e o Apocalipse
O Livro de Hebreus contém algumas das advertências mais claras contra a apostasia e também exortações urgentes para se permanecer firme até o fim.
A advertência do NT também é clara sobre o fato de o crente poder voluntariamente perder sua salvação. O Livro de Hebreus contém algumas das advertências mais claras contra a apostasia e também exortações urgentes para se permanecer firme até o fim – todas direcionadas a cristãos.
Por causa da revelação maior que veio com a encarnação de Cristo, o autor de Hebreus disse aos cristãos, “Portanto, convém-nos atentar, com mais diligência, para as coisas que já temos ouvido, para que, em tempo algum, nos desviemos delas” (2.1). Neste texto, o escritor incluiu a si próprio em uma advertência contra se deixar o caminho da salvação. No mesmo contexto, levantou uma questão retórica, “Como escaparemos nós [julgamento, compare v. 2), se descuidarmos de uma tão grande salvação?” (v. 3). Novamente, o autor se incluiu em seu público cristão.
Devemos notar que o verbo é descuidar, não rejeitar. Seus leitores eram cristãos descuidados, e não descrentes rejeitadores. Em 3.6, ele lançou o mesmo desafio feito por Jesus e Paulo: E nós somos Sua “própria casa... se tão somente conservarmos firme a confiança e a glória da esperança até o fim.” Ele reiterou além disso, “Porque nos tornamos participantes de Cristo, se retivermos firmemente o princípio da nossa confiança até o fim.” (v. 14). Advertiu aos crentes, “Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel, para se apartar [apostaenai, apostasia] do Deus vivo.” (3.12, ênfase adicionada).
Os crentes precisam “temer, pois, que, porventura, deixada a promessa de entrar no seu repouso, pareça que algum de vós fique para trás” (4.1), porque até crentes podem “cair no mesmo exemplo de desobediência [que os da aliança de Israel demonstravam]” (4.11).
Em 6.4-6, o autor declara: “Porque é impossível que os que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se fizeram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus e as virtudes do século futuro e recaíram sejam outra vez renovados para arrependimento; pois assim, quanto a eles, de novo crucificam o Filho de Deus e o expõe ao vitupério.”
Reminiscente de Números 15.30,31, Hebreus afirma: “Porque, se pecarmos voluntariamente, depois de termos recebido o conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados, mas uma certa expectação horrível de juízo” (10.26,27, ênfase adicionada). E continua, “Quebrantando alguém a lei de Moisés, morre sem misericórdia, só pela palavra de duas ou três testemunhas. De quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por profano o sangue do testamento, com que foi santificado, e fizer agravo ao Espírito da graça?” (10.28,29, ênfase adicionada). A parte em negrito desses versículos fornece uma evidência incontestável de que o público é cristão. Esses crentes são advertidos a não “rejeitarem” (em oposição a “perder acidentalmente”) sua salvação (10.35).
O escritor de Hebreus deixou ao seu público cristão esta exortação: “Tendo cuidado de que ninguém se prive da graça de Deus, e de que nenhuma raiz de amargura [compare com Dt 29.18-21], brotando, vos perturbe, e por ela muitos se contaminem. E ninguém seja fornicador ou profano, como Esaú, que, por um manjar, vendeu seu direito de primogenitura. Porque bem sabeis que, querendo ele ainda depois herdar a bênção, foi rejeitado, porque não achou lugar de arrependimento, ainda que, com lágrima, o buscou.” (Hb 12.15-17).
Tiago nos diz: “se algum de entre vós se tem desviado da verdade, e alguém o converter, saiba que aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador salvará da morte uma alma.” (Tg 5.19,20).
Pedro escreve: “E também houve entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos doutores, que introduzirão encobertamente heresias de perdição e negarão o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina perdição.” (2Pe 2.1). No mesmo contexto, continua: “Portanto se, depois de terem escapado das corrupções do mundo pelo conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, forem outra vez envolvidos nelas e vencidos, tornou-se lhes o último estado pior que o primeiro. Porque melhor lhes fora não conhecerem o caminho da justiça do que, conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado. O cão voltou ao seu próprio vômito; a porca lavada, ao espojadouro de lama.” (2Pe 2.20-22, ênfase acrescentada para demonstrar o fato de que o autor está descrevendo pessoas que haviam sido contadas entre os redimidos).
João descreveu um pecado que é “para a morte” e não pode ser perdoado (1Jo 5.16).
O contexto na primeira metade do versículo, assim como o uso da mesma terminologia em outros lugares nessa carta (1Jo 3.13,14) deixa claro o fato de que se trata de morte espiritual e não física. Essa mensagem não é diferente da de Apocalipse. Lá, ele prometeu vida eterna apenas àqueles que vencerem e perseverarem fiéis até o fim (Ap 2.10,25, 26). Por outro lado, ele garantiu rejeição e perda da vida para aqueles que não o fizerem (Ap 2.5; 3.11,16). Até o final do livro (e, portanto, o NT), ele continuou a alertar sobre a possibilidade de se perder a salvação (Ap 22.19).
Conclusão
A única segurança do crente está atrelada à firme obediência à vontade do Mestre.
É evidente que a Bíblia alerta contra a possibilidade de perda do status com Deus. As Escrituras são claras no que diz respeito a que a única segurança do crente está atrelada à firme obediência à vontade do Mestre.
Essa realidade se encaixa perfeitamente na definição bíblica de salvação, que não é um evento único que sela um crente por toda a eternidade, mas um processo que tem estágio passado (Rm 10.9,10; 2Co 5.17), presente (Lc 9.23; 1Co 1.18; 2Co 2.15; 3.18; Fp 2.12; 3.8-16) e futuro (Rm 8.19-24; 1Co 15.24-28; 1Pe 1.3-7; Ap 12.10; 20.1-10; 21.1 – 22.14).
Os crentes detêm a opção de escolher uma vida de obediência e submissão à vontade de Deus ou de se desviar do relacionamento com Deus e sofrer a separação eterna de Deus como resultado.
Ao ensinar esta verdade às pessoas, você pode encorajá-las a uma vida divina e a responderem aqueles que creem na segurança eterna.
W.E. NUNNALLY, Ph.D.
Professor de Judaísmo Primitivo e Origens Cristãs na
Universidade Evangel
Springfield, Missouri (EUA)
Fonte: Recursos Espirituais
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