Por Kevin Jackson
No livro Contra o Calvinismo, Roger Olson afirma que o calvinismo
prejudica a reputação de Deus, e que ele (não intencionalmente) torna Deus em
um monstro moral que é dificilmente distinguível do diabo. Olson não defende
que os calvinistas afirmam que Deus é como o diabo. Em vez disso, em sua
opinião, isto é a implicação lógica do calvinismo. Esta é uma afirmação
forte, mas eu concordo. John Wesley também .
Michael Horton, um
calvinista muito amável, e autor do livro A Favor do Calvinismo , fez recentemente uma postagem sobre por que ele
acredita que os arminianos incorrem nas mesmas questões de "caráter de
Deus" tal como calvinistas. Ele propõe que " teologias
não-calvinistas são tão vulneráveis a respeito desta questão." Ele
propõe duas perguntas:
Se [no
arminianismo] Deus sabia que Adão e Eva iriam transgredir sua lei, por que ele
não mudou as circunstâncias para que eles pudessem ter feito uma escolha
diferente?
Por
que [no arminianismo] Deus criaria pessoas que ele sabia que iriam ser
condenadas pelo seu pecado original e atual?
As perguntas de
Horton implicitamente reconhecem que o sistema calvinista cria problemas para o
caráter de Deus, contudo, ele acredita que essas questões também estão
presentes na teologia arminiana. Se os argumentos de Horton atingirem o
alvo, eles pareceriam limitar os arminianos a apenas duas opções: 1) Reconhecer
que a compreensão arminiana da presciência de Deus torna Deus em um monstro
moral da mesma forma que o calvinismo torna, ou 2) rejeitar a possibilidade de
que Deus tem presciência exaustiva (teísmo aberto).
Mas há uma terceira
opção: presciência simples (a qual chamarei PS). A PS evita as questões do
"caráter de Deus" presentes no calvinismo, ao mesmo tempo que
sustenta que Deus tem conhecimento exaustivo de todos os eventos desde antes da
fundação do mundo.
E se Deus soubesse
o que a humanidade faria somente depois que ele tomasse a decisão de nos criar? Isso
poderia ser entendido como uma ordem lógica, não por necessidade temporal, visto
que Deus é eterno. E se depois que Deus decidiu nos criar, ele não quisesse
ou não fosse capaz de voltar atrás dessa decisão? Esta compreensão de presciência
não comprometeria o caráter de Deus, porque sua presciência surgiu como
resultado da sua decisão de criar. Nem todos os arminianos sustentam a PS,
outros sustentam explicações diferentes (como o molinismo). No entanto, a
PS provê respostas razoáveis para as perguntas de Horton sobre o caráter de
Deus.
Os adeptos da PS mantém
que a presciência de Deus é contingente a nossa existência. Deus sabe o
que faremos porque o faremos. O conhecimento de Deus não é a fonte de
nosso fazer. Em vez disso, o nosso fazer é a fonte do conhecimento de
Deus. Os adeptos da PS acreditam que não faz sentido falar de Deus conhecendo
as ações de criaturas que não existem. Também que não faz sentido falar de
Deus sabendo o que faríamos em situações diferentes que na verdade não existem. Se
uma situação real não existe, não há nada para Deus saber sobre isso.
É um pouco como
dizer que Deus sabe o que vai acontecer amanhã, quando o hobbit rouba o pote de
ouro do gnomo. Deus não conhece nenhum "fato" como esse. Não
há hobbit. Não há gnomo. Não há nada para Deus saber sobre esta
situação, apenas um conceito imaginário que não existe.
Os adeptos de PS
sustentam que em algum momento Deus tomou a decisão de criar o mundo. Novamente,
isto pode ser entendido como uma ordem lógica, não uma temporal. Antes da
decisão de Deus de fazer o mundo, não havia nada para ele saber sobre o que a
humanidade faria ou não faria. Ele não tinha decidido nos criar. Nós
éramos não-existentes. Depois decidir criar o mundo, Deus sabia tudo o que
aconteceria – pecado, algumas pessoas acreditando nele, outras o rejeitando. Mas
nesse momento nosso mundo foi atualizado, Deus sabia o que faríamos, porque
acabaria por fazê-lo. Naquele momento, Deus também sabia o que faria a
respeito do pecado e como redimiria a humanidade – enviando Jesus: o próprio
Deus em carne. Após decidir criar a humanidade à sua imagem, e nos
conceder a capacidade de tomar decisões, e nos conceder uma posição
privilegiada, Deus não poderia voltar atrás sua escolha de criar. Ele não
poderia fazer com que deixássemos de existir, sem fazer violência ao seu caráter
e à sua criação.
Agora, a PS tem
algum mistério para isto. Como Deus sabia o que faríamos antes de nós realmente
existirmos no tempo? Como Deus poderia decidir em um instante como ele interagiria
com a humanidade ao longo de todo o tempo? Como Deus pode ser emocional a
respeito da sua criação hoje se já conheceu todos os eventos? Estas são
perguntas válidas, mas estou confortável deixando-as no campo do mistério. O
mistério é preferível a acreditar que Deus causa o pecado, ou que ele não
conhece o futuro.
A ordem lógica da
presciência de Deus no calvinismo e no arminianismo funciona assim:
Calvinismo
1) Deus meticulosamente decreta o que vai acontecer
no mundo que ele pretende criar.
2) Deus cria.
Arminianismo
1) Deus decide criar.
2) Deus tem conhecimento exaustivo sobre tudo o que
vai acontecer.
Enquanto calvinistas
e arminianos acreditam que Deus tem conhecimento exaustivo do futuro, só no calvinismo
Deus decreta meticulosamente o futuro – e (na visão arminiana) isso é o que o
torna responsável pelo mal. No arminianismo, a presciência de Deus é
contingente as ações livres futuras das criaturas criadas à sua imagem. Se
fizéssemos algo diferente, Deus saberia algo diferente, porque a fonte de sua
presciência são as nossas ações eventuais. O arminiano não afirma que Deus
sabia que ele condenaria as pessoas antes que ele decidisse criá-las, nem é
necessário para nós fazê-lo. Se a fonte da presciência de Deus são as
nossas ações, Deus não é culpado pelo mal. Se a fonte da presciência de
Deus é através do seu decreto meticuloso, então Deus é responsável por cada
pecado que cada pessoa comete. E ele é finalmente responsável pelo mal. Fim
de papo!
[Para uma explicação acadêmica da visão de PS, leia God and Time do teólogo Jack
Cottrell. Cottrell chama esse conceito de “big bang noético”.]
Fonte:
Wesleyan Arminian
Imprima este artigo em PDF
"Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas."
ResponderExcluirIsaías 45:7
Tentar encaixar essa passagem aí na tua conclusão final do texto!
Olá Dmagal, para saber qual a opinião do autor do texto a respeito do versículo citado seria necessário entrar em contato com ele.
Excluir