
Por William Birch
Uma justificação e, portanto, a expiação diante de Deus é realizada por uma fé em e união com Jesus Cristo (que é semelhante à doutrina calvinista e muito diferente da doutrina católica romana). A seguir está o que Armínio ensinou sobre a união dos fiéis com Cristo:
I. Como Cristo é constituído pelo Pai, o Salvador dos que creem que, sendo exaltado no céu à destra do Pai, comunica aos crentes todas as bênçãos que ele tem solicitado da parte do Pai, e que ele obteve por sua obediência e súplica; entretanto, a participação das bênçãos não pode ser totalmente comunicada, senão onde tenha previamente acontecido uma união ordenada e adequada entre aquele que comunica e aqueles a quem essa comunicação foi feita; é então necessário tratarmos, em primeiro lugar, sobre a união de Cristo conosco, por conta de ser o efeito primário e imediato dessa fé pela qual os homens creem nele como o seu único Salvador.
II. A verdade de tal coisa e da necessidade dessa união foi intimada pelos nomes com que Cristo é marcantemente distinguido em uma certa relação aos crentes: Esses são os títulos [o ato de chamar pelo nome] de Cabeça, Esposo, Fundação, Vinha e outros de gênero similar. Do qual, por outro lado, os crentes são chamados de membros de seu corpo, que é toda a igreja dos crentes, a esposa de Cristo, pedras vivas construídas sobre ele, e rebentos ou ramos: Por estes epítetos está marcada a união mais próxima e íntima entre Cristo e os crentes. [1]
Um dos aspectos da teologia de Armínio que eu mais aprecio é a sua atenção dada à união com Jesus Cristo. Isto afeta a eleição, a predestinação, a expiação, a justificação, a santificação e a perseverança dos que estão em união com ele. Como Jesus, em termos inequívocos, condicionalmente afirma: "Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que, estando em mim, não der fruto, ele o corta; e todo o que dá fruto limpa, para que produza mais fruto ainda.” (João 15:1-2 ARA). Ele ainda insiste: "Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora, à semelhança do ramo, e secará; e o apanham, lançam no fogo e o queimam." (João 15:6 ARA).
O apóstolo Paulo informa o crente da mesma coisa: "Considerai, pois, a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; mas, para contigo, a bondade de Deus, se nela permaneceres; doutra sorte, também tu serás cortado." (Rom. 11:22 ARA). A teologia de Armínio é centrada na Bíblia e cristológica por natureza. Ele continua:
III. Podemos definir ou descrever ser isso espiritual e mais estrito e, portanto, conjunção misticamente essencial, pelo qual os crentes, sendo imediatamente conectados, por Deus Pai e Jesus Cristo através do Espírito de Cristo e de Deus, com o próprio Cristo e através de Cristo com Deus, tornam-se um com ele e com o Pai e são feitos participantes de todas suas bênçãos, para sua própria salvação e para glória de Cristo e de Deus. [2]
Note que Armínio não se acovarda de admitir uma medida de mistério na união do crente com Deus Pai através de Jesus Cristo. Certamente deve haver alguma medida do mistério da fé cristã, pois nem tudo nos foi revelado. No entanto, muito mistério em uma teologia se presta a promover "uma ignorância persistente do que é factual, coerente, e verdadeiro à luz de como a palavra de Deus relata sobre a evidência da vida.” [3] Assim, o crente deve manter um equilíbrio sobre a noção do mistério, ou ele ou ela vão acabar por não saber muita coisa. Armínio continua:
IV. O autor desta união não é só Deus Pai, que constituiu seu filho o Cabeça da Igreja, revestiu-lhe com o Espírito sem medida e une os crentes ao seu Filho; mas também Cristo, que comunica aos crentes esse Espírito que obteve do Pai, para que, aderindo a ele pela fé, [os crentes] possam ser um Espírito. Os administradores são profetas, apóstolos e outros despenseiros dos mistérios de Deus, que estabelecem a Cristo como o fundamento e trazem a sua esposa para ele.
V. As partes a serem unidas são: 1) Cristo, por quem Deus Pai constituiu o Cabeça, o Esposo, a Fundação, a Videira, etc., e a quem deu toda a perfeição, comunicando-lhe pleno poder e comando: 2) E o homem pecador que estava destituído da glória de Deus, agora um crente e tendo Cristo por seu Salvador.
VI. O vínculo de unidade deve ser considerado tanto por parte dos crentes quanto da parte de Deus e de Cristo. (1) Por parte dos crentes, é a fé em Cristo e em Deus, pela qual Cristo é dado para habitar em nossos corações. (2) Na parte de Deus e de Cristo, é o Espírito de ambos, que flui de Cristo que foi constituído Cabeça dos crentes, para que ele possa uni-los como membros.
VII. A forma de união é consecutivamente uma compactação e articulação, que é ordenado, harmonioso e em toda a parte concorda com si por articulações fornecidas de acordo com a medida dos dons de Cristo. Este conjunto recebe vários títulos, de acordo com as várias similitudes que já citamos. No que diz respeito a fundação e a casa construída em cima dela, é um ser construído em [uma casa espiritual]. Com relação ao marido e a mulher, é uma participação de carne e ossos. No que diz respeito a videira e seus ramos. . . é uma enxertamento e implantação.
VIII. O Final próximo e imediato é a comunhão das partes unidas entre si; o que também é um efeito consequente dessa união, mas ativamente entendido conforme flui de Cristo; e positivamente, conforme flui aos crentes e é recebido por eles. A causa disso é que a relação é de disquiparidade [longa elaboração] onde o fundamento é Cristo, que possui todas as coisas e nenhuma necessidade tem, o Termo ou Limite é o crente na carência de tudo. O Fim Remoto é a salvação eterna dos crentes e da glória de Deus e de Cristo.
IX. Mas não só Cristo comunica as suas bênçãos aos fiéis que estão unidos a ele, mas considera igualmente, em virtude desta união mais íntima e próxima, que as coisas boas concedidas e os males infligidos sobre os crentes são também feitos a si mesmo. Por isso, surge comiseração [simpatia] por seus filhos e certo socorrer [assistência]; porém ira contra aqueles que afligem, que permanece sobre eles até se arrependerem; e beneficência [boa generosidade] para aqueles que tenham dado mesmo um copo d’água fria em o nome de Cristo a um de seus seguidores.[4]
Notas:
[1] James Arminius, "Seventy-Nine Private Disputations: Disputation XLVI. On the Communion of Believers with Christ, and Particularly with His Death," em The Works of Arminius, três volumes, trad. James Nichols (Grand Rapids: Baker Book House, 1986), 2:401-02.
[2] Ibid., 2:402.
[3] Udo Middlemann, The Innocence of God (Colorado Springs: Paternoster Publishing, 2007), 27.
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