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Pensando com Cristo



“Car Qui a connu la pensée du Seigneur, Pour l’instruire? Or nous,nous avons la pensée de Christ.” 1 Co 2.16 (LSG - Louis Segond 1910)


Já algum tempo venho percebendo a crescente onda de literatura evangélica em nosso país; cada televangelista ou pastor, ou celebridade recém-convertida, ou ex-satanista possui a sua própria editora e/ou gravadora musical para a glória de Deus, é claro. Isto de fato é muito bom, pois demonstra o crescimento de uma cultura evangélica nacional, ou seja, estamos tendo a capacidade de andarmos com nossas próprias pernas em termos de vida cristã diária. Seja através de livros ou músicas estamos produzindo material evangélico tupiniquim para o nosso próprio contexto espiritual. Se quisermos ter uma igreja brasileira saudável é mister que ela mesma possa cuidar das suas próprias necessidades espirituais com o auxílio do Espírito Santo.

Quem poderia imaginar alguns anos atrás que gravadoras seculares estariam abrindo as suas portas para a música gospel? Ou que editoras seculares estivessem imprimindo livros de pastores? Como diz um ditado popular: o mundo dá voltas. Até parece que estamos desfrutando um certo paraíso religioso triunfalista no Brasil, que vamos colocar um presidente crente no poder, que vamos ganhar para Jesus muitos artistas famosos, que vamos ver um televangelista em horário nobre no “plim-plim”, que vamos acabar com tudo que não seja gospel. Porém, cada vez mais que achamos estar perto de um autêntico avivamento lá vem um balde de água fria nos cristãos entusiásticos brasileiros. De quem seria a culpa? O que estamos fazendo de errado? Será que Deus se esqueceu de nós?

Perguntas multiplicam-se, mas as respostas por mais convincentes que sejam não explicam e até ajudam a piorar a situação. Métodos atrás de métodos a fé vem sendo comercializada no mundo dos negócios made in Brazil. Do sentimento pejorativo à banalização da fé evangélica levamos poucos anos, confesso que preferiria ser vítima intolerância religiosa a ser apontado como “mais que vai abrir uma igreja e se dar bem”. O significado de Evangelho diluiu-se, escândalos e mais escândalos emergem no cenário gospel e os cristãos aparentemente reagem com um certo “ar de piedade” (c.f 1 Tm 4.1-2; 6.3-5 e também 2 Tm 3.5; Mt 18.7), mas na realidade poucos são os que tomam a cruz e desafiam os gigantes marajás do evangelho. Seja por medo de retaliação ou por uma real inaptidão muitos se calam e deixam o barco da fé naufragar em mares revoltosos.

Uma compreensão errada de Evangelho está sempre conectada com uma forma ineficiente – até mesmo falsificada – de proclamação da Boa Nova. Creio que as palavras cristão e problemas são duas palavras bem próximas num sentido bem prático, pois engana-se a si mesmo aquele que crê que o mundo nos ama (Jo 15.19), sendo assim, inevitavelmente nós cristãos atraímos problemas e vice-versa. Alguns tentando eliminar os problemas da vida cristã preferiram fazer um mix entre espírito e mundo, o resultado disso foi uma cultura cristã onde as pessoas podem ser perfeitamente cristãs e traficantes, cristãs e estelionatárias, cristãs e promíscuas... E tudo isso à custa da divina graça adquirida na cruz do calvário! Deste modo, não podemos desviar os nossos olhos desta realidade, que todas estas coisas estão acontecendo por causa de uma enorme falta de noção do sacrifício Pascal Cristo. Pessoas intituladas “cristãs” estão fazendo atrocidades em nome do Santo de Israel. O que faremos nós? Faremos como o avestruz que bate as asas de alegria, mas deixa os seus ovos no chão onde podem ser pisoteados (Jó 39.13-18)?

Como dito anteriormente, uma pregação errada gera um evangelho errado, que vai gerar falsas esperanças e consequências desagradáveis àqueles que lhe prestarem fé. Paulo de Tarso escrevendo a uma igreja imoral e dividida apontou as características da sua pregação: “A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana; e, sim, no poder de Deus” 1 Co 2.4-5 ARA. O Apóstolo tinha plena convicção que o fruto de seu trabalho não poderia ser confundido por aquele momento específico, uma vez que o genuíno Evangelho fora plantado em Corinto o fruto teria de ser bom (c.f Jo 15.4-5 e Mt 7.18). Sob esta ótica, por mais bem intencionados em tentar contextualizar o Evangelho a modernidade - por exemplo, ao acrescentarmos brindes divinos como a segurança financeira nas pregações - também corremos o risco de deixá-lo infrutuoso. Por favor! Entendamos que o Evangelho não precisa de uma ajudinha nossa, ele é autossuficiente, pois sobre ele já repousa a operação do Espírito Santo.

Quando os cristãos buscam o “reconhecimento do mundo”, talvez ganhem a reprovação de Deus. Não precisamos competir para alcançar a aceitação dos estratos mais elevados da nossa sociedade, seja isso em termos acadêmicos, políticos ou financeiros. Já somos aceitos por Deus pela fé no Cristo! Se isso basta para a Divindade, porque se preocupar com a aceitação do mundo (1 Jo 2.17)? A história da igreja nos mostra que já fomos apedrejados, crucificados, queimados, degolados, estripados, afogados, dados às feras e mesmo assim o Evangelho progrediu, Deus continuou nos amando e abençoando. Se não procuramos a nossa própria glória, não é porque somos loucos, mas porque temos a mente de Cristo.


Luís Henrique S. Silva – Caxias do Sul, RS
Bacharelando em Teologia - ULBRA


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